João Neutzling Jr.
Mỹ Lai - 55 anos de um crime impune
João Neutzling Jr.
Economista, bacharel em Direito, mestre em Educação, auditor estadual, pesquisador e professor
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Durante a guerra do Vietnam, no sudeste asiático, o exército americano executou, em 16 de março de 1968, um massacre contra civis sul-vietnamitas que caracterizou-se como crime de guerra e que segue impune há 55 anos. Os soldados dos Estados Unidos receberam ordens de limpar o povoado de My˜ Lai, que supostamente abrigava guerrilheiros vietcongs. Invadiram o povoado de manhã cedo e começaram a atirar em todas as pessoas que encontravam.
Um grupo de camponeses foi reunido pelos soldados e levados a uma vala de irrigação, foram empurrados para a vala e mortos a tiros de metralhadoras por soldados americanos. Igualzinho ao que os nazistas fizeram com judeus na segunda guerra. Mães com bebês de colo foram alinhadas e fuziladas sumariamente. Idosos, crianças, jovens e bebês foram todos fuzilados dentro de suas choupanas, que depois foram explodidas com granadas. Várias meninas e moças jovens foram estupradas e depois assassinadas. O pequeno rebanho doméstico de galinhas, porcos e patos foi igualmente sacrificado.
Ao final, 504 cadáveres dos campesinos, idosos, mulheres e crianças (cerca de 170), todos desarmados. Um fotógrafo militar encarregou-se de documentar a chacina. O crime escandalizou e alguns soldados confessaram as atrocidades.
O soldado William L. Calley, segundo-tenente, foi o único a ser condenado pelo massacre em corte marcial. Sendo condenado à prisão perpétua. Mas recebeu o perdão presidencial do então presidente Richard Nixon (do escândalo de Watergate) (Belknap, Michal R. - The Vietnam War on trial: The My Lai massacre and the Court-Martial of Lieutenant Calley - University Press of Kansas). Calley tem hoje 79 anos.
Ocorreram muitos casos de suicídios de soldados americanos que não suportaram a pressão psicológica da guerra. Não existe informação precisa sobre o assunto, pois o governo abafou a divulgação dos casos para não criar comoção popular.
O soldado Varnado Simpson disse em entrevista: "uma vez que você mata, torna-se fácil matar o próximo e o próximo e o próximo". Ele disse que tinha pesadelos sobre as crianças mortas e sofria de tremores constantes. Em seu testamento, escreveu: "eu tenho pesadelo quase todas as noites, eu sonhava com as crianças que fuzilei se levantando do chão e vindo em minha direção, não posso viver com isso". Simpson, anos depois, matou-se com um tiro de fuzil na cabeça. Vários outros soldados fizeram o mesmo.
Por crimes do mesmo naipe, vários oficiais nazistas foram condenados e executados à morte por enforcamento ao fim da Segunda Guerra. Mas os soldados americanos ficaram impunes dos seus crimes. Muitos outros massacres como esse foram cometidos pelos soldados americanos, mas nunca vieram a público.
O filme Platoon (1986), de Oliver Stone, tem uma cena inspirada na tragédia da aldeia. Durante a guerra, morreram 55 mil soldados americanos, dois milhões de vietnamitas (estimativa) e 300 mil soldados americanos ficam feridos ou aleijados. Os Estados Unidos jogaram sete milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã (três vezes mais que na Segunda Guerra Mundial).
Em tempos de mais uma guerra na Europa, é sempre bom recordar o histórico de gentilezas dos Estados Unidos no Vietnam.
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